quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Vias digitais



Seu carinho vem pelas redes sociais,
Amor gratuito, sem cobranças ou promessas.
Beijos e assanhos, via internet,
Desdiz o que foi dito,
Diz o não dito,
Instantaneamente. 

As palavras navegam no virtual,
No ipad, no ipod, tudo pode.
No teclar da pena invisível,
Na webcam do falar inaudível.
Já printei o seu olhar,
Já escaneei o seu pensar,
Já arquivei o seu bem amar,
Para sempre na minha memória.



Ta aí!




A paixão bateu à porta
No chuvoso domingo de manhã
Depois da ressaca da fantasia
Do sábado que deveria ser alegre.

A ternura enamorada bateu à porta
Num corpo dolorido pelos falsos amores
Numa alma preenchida com ilusões idiotas
Num  coração carente do antigo amor.

Um doce engano bateu à porta
Parece ser você de volta
Parece ser você pra mim
Parece ser você pra sempre.

A dura verdade bate à porta
Estou sozinho
Estou vazio
E bate: tá, tá, tá... Tá aí...
Estou sem você.

Sussurro



 

Somos náufragos agarrados à efêmera vida humana
Um sopro separa a infância e a velhice
Somos um punhado de barro a ser moldado
Árvores arqueadas, vidas envergadas
Na tentativa de viver como se a terra fosse céu
Pouco resiste a dissolução do tempo
Cheiro de eternidade
Dor para abrir a tolerância
Amor para lapidar o Ser

Na sensatez, a filha do silêncio,
Queremos sentir as fragrâncias do eterno
E no mistério da transcendência
Temos o frescor dos sedentos
Sonhamos os sonhos que a alma cultiva
Canções que as crianças embalam
Gratuidade da natureza nas flores
Amor com indefinível intensidade
Louvores e renúncias na alameda da vida

No tempo de inconsistência
Peso da carne, leveza do espírito
A vida já não teme a morte
É viajar para dentro de ser serenidade
Exercício de paciência e caridade
Há anos que não valem um dia
Viajei na mesma idade inúmeras vezes...
O silêncio do ar, o silêncio da morte
Um doce e gracioso sussurro de Deus.

Perdição de Amor



 

Alguém me fez um pedido indecente
Que eu imaginasse e fizesse um poema quente.
Decidi fazer o que vejo no desejo
Oculto nos olhos de cada um.
Vejo um coração ex-vazio e vadio
Antiga presença e constante perfume
Perdição de saborear um dentro do outro.

Qual o meu nome? E o seu? Não interessa...
Interessa é o eco do querer e cobiçar.
Imprudência do desejar no apetecer.
Perdição do amar sentenciado ao prazer.

O pulso bate na cadência da satisfação
Quer vestir algo da cor de excitação
Devorar languidamente o corpo flamejado
Na carne trêmula que sente úmida.
Perdição de desejo na saliva adocicada.

O seu corpo nu, muita intimidade
O meu corpo entregue, êxtase...
Mãos ousadas, possessivas,
Bocas intrusas, dentes molhados,
Lábios saborosos, línguas desejosas,
Beijos pertencidos, amores cobiçados.
Perdição de desmaiar nos seus braços.

Tantos soluços no toque dos seus dedos,
Revolver as entranhas e galopar nos lençóis
Fazer amor querendo mais em ardentes gemidos
Estonteante onda de calor que emana do seu suor.
Perdição de saciar no seu corpo.

E eu encabulada, excitada, entorpecida,
Arfando cansada em seu peito
Estou louca e desfaleço.
Um incontrolável fundir de corpos,
Perdição de prazer e amor travesso.
O meu corpo sorri, sai e sacia o seu.
Perdição de querer o seu gozo.














O boêmio e a poetisa





Dois tolos recheados de gente e de rua
Embriagados no apaixonar.

Um ébrio recheado de aventuras,
A outra alimentada no poema de vida já composto.

Um com palavras que beijam como se tivessem  boca e língua,
A outra com poema que desabrocha nos lábios e desflora-se no papel.

Um com passos que somem e se perdem,
A outra grávida de eternidade.

Um que serve o vinho de qualquer paixão já embriagada,
A outra cheia de prosa e sempre tonta do amar.

Um sem porto de chegada e de partida,
A outra com pontos que suspiram de boca em boca.

Um eterno aprendiz da queda e do erro,
A outra com chicotadas do pensamento poético.

Um de mil dias vividos e poucas noites dormidas,
A outra que vive o anoitecer do amanhã do poeta de ontem.

Um no desmando infeliz de encher e depois vazar,
A outra que beija o beijo do se foi para sempre voltar.