quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Poesia Encantada III - Menção honrosa


ABRAÇO AMIGO



Quero acordar no meio do medo
E sentir o abraço das letras
Um choro perpétuo e um sorriso de paz
Um cheiro doce e intoxicante
Do único sonho: viver pra sonhar.

Mas as incômodas onomatopéias latejam
O sono foge e acorda a apreensão
Vem a noite, fazendo silêncio
Emudecendo os ruídos
Troco o peso de uma das pernas para outra
E faço interrogações

Não sei o que pensar, pensei em tudo...
O nada veio
Resgatando minha memória
Descobrindo minha história,
Relembrando o que ainda sou

Minhas vísceras reviraram
Assumo agora a certeza da dúvida...
Enxuguei as lágrimas que haviam caído
E segurei as que estavam por cair.
Uma surpresa sem estranheza, afinal
Os livros foram os únicos que me aceitaram.



Concurso Internacional - Amanhã, outro Dia - 2 lugar

Mais um dia de visita Abri os olhos e pude sentir o cheiro do café sendo coado. Não havia mais nada além do delicioso pretinho na nossa casa. Mas a falta do dinheiro no final do mês não impede o enfrentamento das vicissitudes e o humor diante das situações cotidianas. Saí da cama num pulo, prendi meus cabelos bem cuidados, caminhei a passos firmes para o terreno baldio e pude sentir vagarosamente o entorpecer do sol na minha pele. Que sensação maravilhosa! Meus olhos podiam contemplar a mais bela dádiva de Deus: a vida! A minha vida, a vida dos meus entes amados e a vida doce que fermentava ao meu redor. E nessa mesma paisagem de sempre que alimenta e sacia a minha sede de viver, busco algo diferente a fim de manter-me feliz e auxiliar a humanidade. Penso na possibilidade de descobrir um novo sonho para as pessoas diabéticas, afogo o tédio passageiro e sou inundado por ideias mirabolantes. Tomei o meu café sem açúcar, lavei o rosto para iluminar minha beleza, vesti minha camisa branca de ir à missa, distribui o meu sorriso dentro do pequeno barraco e tomei o ônibus para mais um dia persistente e nunca desistente. Pela janela do veículo que sacolejava, conseguia antecipar os acontecimentos: a demora para ser atendido no hospital e a dificuldade na obtenção dos remédios. Não importa! O som lento do motor era tranquilizante e me fazia refletir... A vida é construída com viagens longas e demoradas, e na maioria das vezes, usufruímos daquilo que gera prazer e aprendemos com as pelejas do destino. Cheguei ao hospital, apalpei a sacolinha que carregava e emanei um sorriso maroto. Ali dentro tinha toda quantia do meu porquinho de moedas quebrado na emergência: Dezesseis reais seriam suficientes para o lanche e o ônibus. Não me sentia mais ansioso ou desconfortável durante minha visita aquele ambiente. Sentei no último banco, perto da conhecida janela. Fechei os olhos e acabei roubado pelo cochilo durante a espera. No limiar do sonho e da realidade, algo me chamou a atenção como criança diante da prateleira de brinquedos. Da janela pude observar tudo o que se costuma ver em novelas, em revistas ou nos poucos livros que li. Mil borboletas passeavam dentro da minha barriga... Uma sensação indescritível de bem estar! Visualizava enormes paredes de água ornamentadas com a arte das pichações, gigantescas páginas de livros voadoras cheias de escritas sorridentes, edifícios recheados de vento calmo e suspirante que a todo momento criavam nova forma aos vários andares, um céu flamejante que irradiava um agradável calor e estupenda luminosidade. Meus pés podiam sentir a firmeza da Mãe Terra que emanava carinho e aconchego. Meu corpo parecia transcender... Meu Ser transbordava leveza e vigor naquele momento mágico. Fui despertado repentinamente pela umidade do pavimento hospitalar. A moça que limpava o local, num momento de descuido, deixou a água fria interceptar meus pés e o meu chão de fantasias. Abri os olhos, tudo fazia parte do velho e conhecido cenário do meu tratamento. Subi as escadas, abri a porta imensa e senti os braços arrepiarem pelo ar condicionado. Senti frio... Não sei se pelo ambiente do hospital ou pelo desligamento abrupto do meu mundo mágico. Aguardei o tempo necessário para o atendimento, recebi as medicações e voltei para casa ciente de que na realidade gozo de saúde e ainda tenho o poder de viver também novos sonhos. De longe podia sentir o delicioso cheiro do café pretinho sem açúcar. ---- LÁGRIMAS Quem dera a sensatez fosse mais forte que o amor A vida é um embaraço e Moradora do meu interior como sou Numa felicidade disfarçada, mergulho Nos pensamentos embaralhados Nos lábios molhados e misturados as lágrimas. Lágrimas amigas íntimas Lágrimas bem-vindas Lágrimas que cortam o rosto Lágrimas abundantes de mágoas pretéritas Lágrimas viscosas de dor Lágrimas preenchidas de infelicidade Lágrimas brilhantes de desespero. Somos o que choramos... Lágrimas para arraigar a perda Lágrimas para irrigar o prazer Curiosas lágrimas que transbordam da alma. Assim, unidamente separados Os olhos deliciam-se nas infinitas águas da vida Olhar nos olhos das salgadas lágrimas Chorar rios secos. O amor virou choro Diante de um coração que nunca sofreu E jamais conhecerá a alegria de ser forte... Molham as lágrimas copiosas De amante que apanha E só tem lágrimas de perdão.

domingo, 13 de novembro de 2011

PREMIO INTERART / LAUREAÇÃO ALG / LANÇAMENTO DE LIVRO

Estou feliz pela realização do evento em Goiânia, no Augustus Plaza In, na entrega de Prêmios Nacionais da INTERART(recebi o Prêmio do livro de Melhor Poesia), na laureação dos Comendadores da Academia de Letras de Goiás-ALG(fui agraciada com esse título) e Lançamento do livro Brasil, mais que um país, uma inspiração - org. Izabelle Valladares (com textos meus e da minha escritora Vera Victorino Valle). Reconheço a honra e a responsabilidade a mim conferidas. Abraços.
Comendadora da ALG:Valéria Victorino Valle

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O tempo não cura nada



O tempo não cura nada,
Apenas tira do centro de atenções o incurável.
A saudade não escolhe vítimas e
A procura insana anda ao lado do desejo
Que insiste na coragem de se arriscar.
Ainda não entendo que traição é
A troca da necessidade pela prioridade.

Admito que tenho as mãos fortes,
Mas joelhos fracos para cair aos seus pés e
Só consigo me enxergar dentro dos seus olhos.
Sinto-me menos objeto e mais humana, mas ainda
Arrasto minhas pernas até você e deixo meu coração cair
Porque todas as minhas lágrimas só possuem um nome...

Alguém sem juízo, desprovido de estabilidade
Olhos de mil perguntas e nenhuma palavra
Que mastiga, devora e digere os meus sentidos.
Alguém sabedor de que outros corpos são apenas lições
Para o encontro verdadeiro...
Um sentimento de querer bem e bem cuidar em que
Um = dois
Diferente de todos ou igual a um duplo
É... O tempo faz esquecer, mas só até ele voltar e
E me fazer lembrar o esquecido, tudo de novo.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Clube Pan Americano e Rotary de Pelotas - RS

Participação no livro - Anais do XVI Encontro Internacional de Poesias 201. Investimento do Clube Pan Americano Enrique Salazar Cavero, Secretaria estadual de Educação, Rotary de Pelotas e Prof. Vilma Farias Guerra - RS

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Premiação e Laureação. Estou feliz!

Estou muito feliz! Dia 12/11 tomo posse como Comendadora da Academia de Letras de Goiás e o meu livro Poesia um Recorte temporal foi indicado como Melhor Livro de Poesia do Prêmio Literart 2011 no Hotel Plaza In em Goiânia. Confiram.http://www.academiadeletrasdegoias.com.br/

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O BEIJO DA FANTASIA - breve publicaçao impressa




Alguns dizem que a fantasia é o esconderijo dos fracos,
O calmante dos medrosos, mas
Falta-lhes experimentar o veneno da vida
A solidão do mundo sem o Amor e
O farfalhar do desejo irrealizável.

Meus olhos se escondem atrás das lembranças
E uma lágrima serpenteia meu rosto
É o sofrer na carne a sua ausência
Sorvendo indeléveis sabores da desistência.

Alguns dizem que a felicidade é uma questão de invenção

Mas não sei mais inventar, tenho a identidade atrofiada
Por uma tristeza que paralisa,
Um alzheimer coagido no mundo das lembranças
Penso nos beijos que até hoje esperam ser beijados...

Não é o sobreviver ao tempo de espera
E sim o viver do tempo certo, com intensidade,
Alimentado por sorrisos trocados e corações tocados.
Preciso fantasiar a normalidade imposta pela vida,
Odeio essa irritante mesmice da normose!

Infantil Ciúme - Livro Histórias para dormir II

Infantil Ciúme

A nossa vida são as pessoas que amamos:
Sorrisos trocados e corações tocados.
A criança dedilha o mundo e suas histórias
Essa inocência chama a mão do poeta,
Despedaça a dúvida e fala:
- Esquisito! Meus pais gostam de sentir
O cheiro do filho que nem nasceu ainda...

A raiva me pega no colo
Laça o meu pensamento
E entre tombos e arranhões
A imensidão de ciúmes toma conta de mim:
Sacode minha cabeça e belisca minha alma.

Meu irmão chegou de fininho,
De mansinho como passos de gato,
Numa simplicidade de gotinhas de orvalho.
Me senti quadrado numa piscina de bolinhas,
Uma nuvem preguiçosa que não sabe a direção do vento...
Agora, resta voltar a fazer xixi na cama,
Acreditar (de novo) que a descarga do vaso vai me engolir
E que serei afogado pelo dilúvio no banheiro...

De repente, uma voz suave escorreu no meu ouvido,
Acariciando o coraçãozinho de quem ama (o amado sou Eu)
Falando com as mãos mágicas para me tocar,
Numa felicidade disfarçada em criança solta no parque,
Que corre e ri feliz nos mundos da fantasia e de verdade.

Agora, alimentado de amor, quero que minha casa
Fique sempre cheia de bochechas rosadas e macias,
Pequenos irmãos para chamar de amores e de amigos.
Nessa história, descobri que não sou mais criança, mas
Não preciso crescer tão rápido,
Posso amar e esperar meu irmão crescer comigo.
Descobri que ninguém nasce adulto, isso é fantástico...
E que ninguém pode ser sempre criança, isso é maravilhoso...
Isso é a maravilha de Deus, que também é menino, meu irmão!




Anjo dos Vermes - Concurso/ Prêmio Augusto dos Anjos

Eu sou o único Livro das páginas do Eu
Escrito a sangue por direito e por poesia
Um Augusto rubro, repugnante e cardíaco
Um Eu notívago, das sombras e dos vermes.

Nas asas falhas da podridão constato
A existência do Alfa e do Ômega que se dissolve
Na repugnância do escarro do viver
Na textura doentia do sangue apodrecido
Que esguicha o preto das vísceras deterioradas.

Eu, poeta do Livro Eu,
Pedaço dilacerado da morte e da vida,
Mostro o monstro da demolição e da fatalidade
Dos valores e sonhos humanos... Vampirescos...

No mundo hipocondríaco de escuridão e de ruínas
Crio com asco e terror, Poemas construtores,
Carnes agonizantes, corroídas e devoradas
Dos Anjos da Poesia.

O Anjo dos Vermes - Concurso/Prêmio Augusto dos Anjos.

Eu sou o único Livro das páginas do Eu
Escrito a sangue por direito e por poesia
Um Augusto rubro, repugnante e cardíaco
Um Eu notívago, das sombras e dos vermes.

Nas asas falhas da podridão constato
A existência do Alfa e do Ômega que se dissolve
Na repugnância do escarro do viver
Na textura doentia do sangue apodrecido
Que esguicha o preto das vísceras deterioradas.

Eu, poeta do Livro Eu,
Pedaço dilacerado da morte e da vida,
Mostro o monstro da demolição e da fatalidade
Dos valores e sonhos humanos... Vampirescos...

No mundo hipocondríaco de escuridão e de ruínas
Crio com asco e terror, Poemas construtores,
Carnes agonizantes, corroídas e devoradas
Dos Anjos da Poesia.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

DESABAFO - UFA!

LIBERDADE PRISIONEIRA





Na cegueira outorgada pela mídia

Busco desesperadamente a liberdade

Desejo livrar-me da construção hipnótica

Imposta aos desinformados, aos ingênuos,

Aos acomodados e também aos hipócritas.



Nesse império do eufemismo,

Onde a verdade com roupas de mentiras

Também possui crédito,

Percebo o vender barato das utopias da vida

Vejo maquiar o rosto leproso da sociedade

Acompanho os olhos e a boca do mundo

Sendo costurados pela feitiçaria midiática.

É o alimentar as sombras e se alimentar de sobras

Constato o verbo absolutista: tiranizar.



E nessa inércia das massas

Incrustada na carne social apodrecida,

Clamo por liberdade e só ouço

Mais uma dose diária de insultos e

Gritos antes da próxima derrama.



É o véu da mídia escondedor do senso crítico

É o disfarce mentirador que não me tira a dor

Tecido perfeito para compor o inferno

E encanto ilusório com a visão do paraíso.



Liberto claudicante o meu grito:

Basta de neobovarismo, chega de avatares.

A reificação não é nenhuma metáfora.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Livros no Rio de Janeiro e São Paulo e ALBA

Recebi os livros/coletâneas "Moedas para o Barqueiro" e "Elas escrevem II" de São Paulo e "Crônicas, Cartas e Poesias" do Rio de Janeiro. E para completar já temos mais uma academia - ALBA - Academia de Letras do Brasil. Demais!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Lançamento livro Reconto com Contos - 23/07/2011 Anápolis em Letras, Fatos e Imagens

Capa lindíssima de Rondinelli Linhares de Oliveira: Minha homenagem e agradecimentos a esse maravilhoso artista.

28 contos -

CREPÚSCULO


Adormeci em soluços. Uma teimosa lágrima registra o arrependimento amargo pela decisão tomada. Arrancado de mim; obriguei-me a negar o que mais queria. Impõe-se a proibição e nega-se a transgressão. É só agressão. Eterno silêncio e sussurro na viração da vida.
Nos meus cinquenta, vividos bem distantes dos riscos e emancipações, fui surpreendido por um imprevisível sentimento, insaciável como a morte. Olhei-me também "interiormente: não sou mais previsibilidade. Não consigo acreditar: ao meio-dia da vida não se pode mais amar um único alguém. Se se morre de amor...
Nesse momento imóvel, emerge o drama de dentro do corpo no profundo da alma. Não sei se destruo ou edifico esse projeto de passeio sem fim. Na débil voz da razão, vomito uma queixa abafada por dentro há anos: ser consumido por tédio, conformismo e invisibilização.
Aquela pequenina gota salgada denota o meu arrependimento por não responder ao gritar das emoções desconhecidas, por não decidir a favor do desejo do corpo e por não saborear o imprevisível.
Obriguei-me a negar o que tenho registrado num livro sereno e transparente: seu discurso, seu frescor e sua doçura. É a imposição do proibido.
Diante de tão forte estrangulamento admito que ainda tenho comigo o medo do desmaiar da noite: túnel secreto para a transgressão. E nesse breve escapulir da escuridão, sinto que minha boca ainda está molhada, o seu suor penetra em minhas carnes e encontro novamente o caminho para os seus ecos. Meus desejos presos e pendurados na sala opressora deixam-se ficar na mão do inconsciente. Estranho deixar-se possuir nunca deixando e nem sempre possuindo... Um não possuir e um não posso ir.
Agonizo diante da conhecida mão da violência que retorna e destrói o meu delírio de ser vivente, de sentir o outro e ser o nós. Vida ida e sofrida. Vida decidida e punida. Vida agredida e virada. É só desestrutura e despedida no crepúsculo de alguém que apenas deseja ser feliz.


RASGOS DE MEMÓRIA




Um filme valioso de quase cem anos. É isso que Sou! Um quase centenário de experiências incríveis. Olhar aguçado, cérebro de criança, corpo envergado e resistentes cabelos brancos.
Rasgos de esquecimento assolam a minha memória aos domingos e as ideias vacilantes insistem em gerar diversão no encontro familiar. São inúmeras criaturinhas falando alto e se movimentando de maneira rápida demais. Nesse turbilhão, esqueço nomes, atrapalho-me na classificação de netos, bisnetos e tataranetos. Alguns dos meus bisnetos trocam seus nomes ou inventam outros estranhos a fim de me confundir. E da minha confusão brotam olhares furtivos, risos discretos e lindas gargalhadas.
E nesse paradoxo da chegada e da despedida familiar fico ensimesmado nos meus rasgos de esquecer para lembrar o esquecido

CALEIDOSCÓPIO


A porta some. Um buraco no espelho mostra nitidamente: envelheço.
Não estou mais na beirada da manhã e nem sou mais o errante guerreiro portador do anel de esmeraldas que navega e naufraga nas águas da vida.
Preciso retirar com urgência um texto dos neurônios para aconchegar os meus sonhos da idade madura. Outrora tive um poema, mas já faz tempo, muito tempo.
Vasculho no chão da mente a imensidão da memória e celebro: faço o que sou.
Sou inúmeras máscaras que vão chamando outras máscaras que existem dentro dos homens e das coisas. E sendo o que sou, sei que o ser não se cumpre sem espiar a própria sombra escondida atrás da persona que agora apresento e represento.
Engulo deliciosos vinhos caleidoscópicos que exalam palavras companheiras e embrulham com ternura o meu brinquedo de escrever: é brincar de viver.
Não sei mais ser o que fui, e assim na incessante busca de respostas para saber o que sou, fabrico o que não sei e não compreendo: é mito e minto. Com os palpitantes punhais da alma e da poesia, aprendo a conhecer-me e a curar-me.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Medalha de Ouro - Concurso Literário

Feliz... Acabo de saber que a minha poesia Dia de Roça foi escolhida e receberá medalha de Ouro no Concurso Literário da Natureza/2011.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Delegada Brasileira da Academia de Letras Vaparaiso - Chile

Fliz demais. Agora sou

Academia de Artes e Literatura de Cabo Frio - RJ

Estou orgulhosa. Sou membro também da Academia de Artes e Literatura de Cabo Frio no Rio de Janeiro.

Concurso Internacional - Amanhã Outro Dia - SP/AG

Crônica - Mais um dia de visita 2 lugar
poesia - Lágrimas e Tempo de Vida-3 lugar

Mais um dia de visita


Abri os olhos e pude sentir o cheiro do café sendo coado. Não havia mais nada além do delicioso pretinho na nossa casa. Mas a falta do dinheiro no final do mês não impede o enfrentamento das vicissitudes e o humor diante das situações cotidianas.
Saí da cama num pulo, prendi meus cabelos bem cuidados, caminhei a passos firmes para o terreno baldio e pude sentir vagarosamente o entorpecer do sol na minha pele. Que sensação maravilhosa! Meus olhos podiam contemplar a mais bela dádiva de Deus: a vida! A minha vida, a vida dos meus entes amados e a vida doce que fermentava ao meu redor.
E nessa mesma paisagem de sempre que alimenta e sacia a minha sede de viver, busco algo diferente a fim de manter-me feliz e auxiliar a humanidade. Penso na possibilidade de descobrir um novo sonho para as pessoas diabéticas, afogo o tédio passageiro e sou inundado por ideias mirabolantes.
Tomei o meu café sem açúcar, lavei o rosto para iluminar minha beleza, vesti minha camisa branca de ir à missa, distribui o meu sorriso dentro do pequeno barraco e tomei o ônibus para mais um dia persistente e nunca desistente.
Pela janela do veículo que sacolejava, conseguia antecipar os acontecimentos: a demora para ser atendido no hospital e a dificuldade na obtenção dos remédios. Não importa! O som lento do motor era tranquilizante e me fazia refletir... A vida é construída com viagens longas e demoradas, e na maioria das vezes, usufruímos daquilo que gera prazer e aprendemos com as pelejas do destino.
Cheguei ao hospital, apalpei a sacolinha que carregava e emanei um sorriso maroto. Ali dentro tinha toda quantia do meu porquinho de moedas quebrado na emergência: Dezesseis reais seriam suficientes para o lanche e o ônibus. Não me sentia mais ansioso ou desconfortável durante minha visita aquele ambiente. Sentei no último banco, perto da conhecida janela. Fechei os olhos e acabei roubado pelo cochilo durante a espera.
No limiar do sonho e da realidade, algo me chamou a atenção como criança diante da prateleira de brinquedos. Da janela pude observar tudo o que se costuma ver em novelas, em revistas ou nos poucos livros que li. Mil borboletas passeavam dentro da minha barriga... Uma sensação indescritível de bem estar! Visualizava enormes paredes de água ornamentadas com a arte das pichações, gigantescas páginas de livros voadoras cheias de escritas sorridentes, edifícios recheados de vento calmo e suspirante que a todo momento criavam nova forma aos vários andares, um céu flamejante que irradiava um agradável calor e estupenda luminosidade. Meus pés podiam sentir a firmeza da Mãe Terra que emanava carinho e aconchego. Meu corpo parecia transcender... Meu Ser transbordava leveza e vigor naquele momento mágico.
Fui despertado repentinamente pela umidade do pavimento hospitalar. A moça que limpava o local, num momento de descuido, deixou a água fria interceptar meus pés e o meu chão de fantasias. Abri os olhos, tudo fazia parte do velho e conhecido cenário do meu tratamento. Subi as escadas, abri a porta imensa e senti os braços arrepiarem pelo ar condicionado. Senti frio... Não sei se pelo ambiente do hospital ou pelo desligamento abrupto do meu mundo mágico.
Aguardei o tempo necessário para o atendimento, recebi as medicações e voltei para casa ciente de que na realidade gozo de saúde e ainda tenho o poder de viver também novos sonhos. De longe podia sentir o delicioso cheiro do café pretinho sem açúcar.


LÁGRIMAS

Quem dera a sensatez fosse mais forte que o amor
A vida é um embaraço e
Moradora do meu interior como sou
Numa felicidade disfarçada, mergulho
Nos pensamentos embaralhados
Nos lábios molhados e misturados as lágrimas.

Lágrimas amigas íntimas
Lágrimas bem-vindas
Lágrimas que cortam o rosto
Lágrimas abundantes de mágoas pretéritas
Lágrimas viscosas de dor
Lágrimas preenchidas de infelicidade
Lágrimas brilhantes de desespero.
Somos o que choramos...
Lágrimas para arraigar a perda
Lágrimas para irrigar o prazer
Curiosas lágrimas que transbordam da alma.

Assim, unidamente separados
Os olhos deliciam-se nas infinitas águas da vida
Olhar nos olhos das salgadas lágrimas
Chorar rios secos.
O amor virou choro
Diante de um coração que nunca sofreu
E jamais conhecerá a alegria de ser forte...
Molham as lágrimas copiosas
De amante que apanha
E só tem lágrimas de perdão.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Poesias Encantadas II - Scortecci São Paulo

Ciúmes, eu?

No clássico sentimento que alimenta a literatura
O simples zelo do ciúme transforma-se em obsessão
Realidade fúnebre irradiada da mente insana de amor
Masmorra construída com as pedras do coração.

E esse ciúme como sinônimo de cuidado
Passa a ser a verdade na mentira que se vê
Busca frenética de confirmações de suspeitas
Exercício absurdo de perseguições imaginadas
Angústia e tormento da eterna rivalidade

Para o ciumento, as relações
Surgem sorrateiras e molestantes
Amor e dor de troca torturante
Face competitiva da inveja de amar

Essa sensação se infiltra avassaladoramente
Como ausência ou excesso de amor
O cuidar transforma-se em possuir
Foge da razão, libera a emoção
Denuncia a falha da insegurança intima

E nessa conduta obsessiva
A moeda paga é o desconforto do apego
Pelo medo de perder o objeto tão desejado...

Ciúme excessivo tem lente de aumento
Um intruso que ameaça a propriedade exclusiva...

Eis a grande sobra da inquietação
Potencialização da insegurança
Que assombra a paz de espírito
Que excita o pavor do abandono...

E se contido o fogo do ciúme
O que resta como vitória e prêmio
É a solidão, Companheira inseparável do ciumento!

terça-feira, 22 de março de 2011

Concurso Internacional - Noturno - 2 lugar (conto) e 3 lugar (poema)

DENEGAÇÃO




Ora, acontece que vislumbro um estranho sorriso em meus lábios. Constato assombrada que opto por viver na ignorância, não quero saber do espelho. Assumo, sumo e sou sombra.
Meus nervos existenciais trepidam no áspero caminho do impossível encontro e revejo saudosamente o vir-a-ser que não se tornou. As reinvenções dos meus desejos afloram e não são percebidas por mim e por outras sombras que também correm nebulosas para o sepultamento da missão interior.
Minha face é a face da noite. Sou a graúna selvagem e triste que perfura as estrelas escuras que circulam as memórias individuais e coletivas.
Meus ouvidos estão atribulados com os sons inquietantes e constantes que estremeceram minha moldura especular abandonada há tempos. Um barulho ensurdecedor que dói, rói e destrói a serenidade e a esperança.
Inesperadamente, vi surgir um enigmático vulto que assanhou a minha curiosidade. Contemplei o vulto, achei-o lindo. Cautelosa, com medo de ser repreendida, respirei o seu hálito e senti que era denso, quente e tinha cheiro de deliciosa refeição.
Minha boca exilada, porém ávida de respostas, pergunta impaciente:
- Você é uma sombra?
- Naturalmente. - Ele me respondeu passando as mãos delicadas pelos longos cabelos.
- Você saiu do espelho? - Perguntei-lhe com crescente curiosidade.
- Que bobagem! Sempre estive aqui com você. - Acrescentou fitando-me com os olhos arregalados, roçando no meu rosto.
- Como assim? - Indaguei desajeitada e incerta diante dos seus braços envolventes.
- Essa é a nossa casa, já se esqueceu... - Disse sem estranheza, esperando que eu o abraçasse.
- Pensei que fosse uma sombra. - Balbuciei confusa, demorando aceitar a sua presença.
- Outra bobagem! Por que eu seria uma sombra? Eu só estava silencioso. - Falou com diabólica beleza.
- Quem é você? - Questionei agora com voz assustada, porém firme.
- Sou o que você construiu... - Murmurou sedutoramente.
- Você é uma sombra? - Perguntei gritando desesperada.
- Pode gritar, não há ninguém em casa - Disse-me sem piedade.
No torpor do desconhecido, meu olhar mendigo e ateu naufraga no silêncio de prisão e tortura do espelho contorcido e distorcido pelo eixo das sombras. São sensações vorazes e melancólicas que sacrificam a idéia imensa e intensa da alma estancada.
E ele acrescentou sinistramente:
- Sou a sua criatura...a recusa da realidade.

domingo, 13 de março de 2011

Concurso Internacional - Vivências - Tempo Insano

Na minha época ainda é assim... Vigiamos o deus do relógio: o Senhor Tempo. Esse titã incontrolável é um eterno compositor de momentos que nos desafia a vencê-lo todos os dias para que haja o amanhã. Imponderável.
Não há lugar melhor para matar o tempo e desafiar a nossa paciência do que aguardar um atendimento médico marcado na longa lista de um hospital público. Estou plantada na recepção e assisto a um corre-corre persistente e tão incessante nos corredores que quase me esqueço porque estou aqui. Atordoamento.
A pressa e a urgência se apoderaram das pessoas que se acotovelam em busca do olhar e da voz da atendente dividida entre as pessoas no balcão, os telefones, o computador e os formulários. Não há cadeiras suficientes para todos, muito menos leitos e médicos, e o cheiro de gente nervosa, de doença e de morte espalham-se por muitos lados e invadem o meu nariz. Desconforto.
A eternidade da espera parece bater também na minha hora. A tão necessária consulta foi marcada há dois meses para a data de hoje, às nove horas e já são onze e meia (Passa do meio-dia, diz meu estômago), uma longa espera. Impaciência.
Como posso pensar em uma deliciosa refeição nesse aroma de hospital e velório? Olho para a parede e confirmo o horário, quase meio-dia. Queria abrir a porta para o dia passar. Por um momento esqueço a fome e penso que é uma insensatez deixar um relógio exposto daquela maneira a fim de que todos possam lamentar e testemunhar os eternos atrasos no atendimento hospitalar. Incoerência.
Encostada na vidraça, tentando ficar calma entre os transeuntes dessa avenida tão movimentada, ironicamente nomeada por mim de Refúgio da Esperança, alivio-me que nada é para sempre. Mas o tempo não perde tempo, e entre gemidos e gritos dos doentes invisíveis da sociedade, pessoas acopladas em índices e estatísticas, presencio o cumprimento de quem chega e a despedida de quem não sai. Comparo o bater lento do relógio ao baixo choro do pequeno garoto que sofre o momento de só ida da velha avó, ali mesmo na recepção do hospital. Não deu tempo... É a insipidez da desesperança. Anseio pela chamada do meu nome, porém não ecoa nenhum som familiar que me levasse para longe daquele lugar. Desassossego.
Digo a mim mesma: Tudo há seu tempo. Acredito que o tal relógio deixa as pessoas mais apreensivas e hipnotizadas, pois não consegui tirar os olhos dele desde o momento em que aqui cheguei. Observo no objeto e na vida que o tempo passa e não espera ninguém. Sinto o corpo entorpecido, as pernas inertes e o cérebro confuso, mas consigo ver que o tempo escoa e arrasta com ele as dores de poucos e a resistência de muitos naquele ambiente: a saúde viaja com o tempo, e esse possuidor de morte e vida é o mesmo para todos. Desalento.
Consolo-me: Sempre há contratempo. E a tempo o relógio conseguiu me encantar durante os muitos minutos no hospital. Voltei a olhá-lo... É compulsivo e viajante. Agora me desfaço das preocupações com o meu atendimento e da compaixão que floresce pelos outros. Concentro-me entre um gesto qualquer do ponteiro e o movimento dos corpos doentes empurrados de um lado para outro. O único som audível era o tic do relógio, as pessoas não tinham expressões, moviam os lábios, mas estavam mudas. Creio que meu atestado de loucura foi validado nesse momento. Desespero.
O relógio parece dissolver-se e entranhar-se na tinta verde clara da parede e confundir-se com os tijolos. Simplesmente incrível observar o caos organizado e construído pelo tempo, esse grande pedreiro da humanidade. As pessoas atordoadas ainda perambulam em círculos pelo hospital, sem atendimento, os braços zumbiando e murmuram palavras incompreensíveis. Angústia.
Desconstruído amarguradamente pelo balançar da transitoriedade, percebo que o tempo se renova numa concepção paradoxalmente cíclica e linear criando o flexível, o instável e o imprevisível. É a contradição de reclamar da espera com esperança. Temperança.
Libertando-me daquela insanidade, como um rebento a gritar por mim, ouço a voz da atendente que chama o meu nome para o atendimento médico. Reajo com rapidez, busco o meu tempo de socorro e a homeostase, pois o tempo não passa duas vezes no mesmo lugar.
Infelizmente, não fujo à hipocrisia dessa infeliz e doentia sociedade: Sou atendida, saio do hospital e deixo lá uma multidão muda, demente, sofrente e com o mesmo cheiro de morte. Todos somos herdeiros do mesmo tempo. Nada é eterno e tudo tem validade estabelecida. O agora é o eterno. Inexorável.

Agenda 2011 - Poesias e Pensamentos - All Print - O mundo do Tempo

O Mundo do Tempo

O tempo nos deixa como herança
Ouvidos para o silêncio
Olhos para o invisível
Ornamentos para a alma

E na curva do tempo...
O arquivo vivo da história
O depositário da experiência
O capturador do pensamento
O devorador da realidade
E digere o mundo

Alquimia das Letras - Agonia da Magia: Insensatez Humana

O dia secreto agonizou, o Sol sobrenatural morreu.
É o enlace noturno da noite insana e interminável
Profundo e imerso no monólogo da razão...

Necessitamos beber com as almas:
Transcendência e contemplação.

E no espírito de arraigar na memória do tempo
Remexemos no caldeirão do passado: experiência adquirida
Emaranhamos as ideias da fantasia: outrora, outra hora na aurora
É a alquimia de rir o riso sempre desejado e muito proibido.

Invocamos o passado extraordinário da vara de condão
Revivemos o tempo vivido e aprisionado na memória infantil
Percebemos o mistério que escapa entre um passo e outro do mundo adulto
Feitiço sóbrio e sério: desencanto, descrença e insensatez.

Insistimos que a magia faz morada em todos
Reparamos o oculto, a imaginação e o fantástico
Lembramos que o admirável da credulidade acontece em nós:
Perenidade das tradições e perpetuação das culturas.

Abominamos as guerras insanas da racionalidade exacerbada
Instauramos uma fome maravilhosa a rondar nossa identidade:
São histórias e lendas numa emoção mágica da eternidade
A realizar o maior dos desejos:
Encantar a humanidade desencantada.

O Segredo da Crisálida - Morte Flor do Tempo

Muitas flores são colhidas cedo demais
Num piscar de olhos
Hoje e amanhã serão ontem

O tempo invade o espaço da vida e da morte
Uma inquietação martirizante...
Como tentar explicar o inexplicável?

No marejar nas próprias lágrimas
Caídas num poema que declama
Na metalinguagem das cinzas
A divisão do vivido
O destilar da melancolia
A proximidade da degeneração de tudo

É a morte – anjo dos desconsolados –
Herança implacável da humanidade
Flor noturna que muda de viver
Desagrega cada sentimento e pulsar
Mostra o padecer e o apodrecer de corpos
E sugere o enriquecer de almas


Flores para os que foram
Flores para os que chegam
São vozes inaudíveis
Num relance da eternidade

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Selo Parisiense de Qualidade - Literatura Infantil - França

O Livro Infantil Histórias para dormir (meu poema foi selecionado para a contracapa)recebeu o selo de qualidade literária na França.

Medalha Personalidade 2010 - criatividade

Valéria V Valle, você foi indicada e após analise de seu perfil, foi aprovado por nossa diretoria para receber a Medalha “Personalidade 2010”. Parabéns!
Idealizada pela Academia de Artes de Cabo Frio, a outorga é uma grande homenagem a todos aqueles que brilharam durante o ano de 2010 no cenário cultural e tem como objetivo central, reconhecer e trazer a público as melhores iniciativas culturais tendo como critério: talento, criatividade, empreendedorismo, respeito e companheirismo e apoio cultural.
É a forma que a ARTPOP encontrou de reconhecer, distinguir e premiar a quem se destaca em nossa sociedade com excelência na gestão de suas carreiras, contribuindo assim efetivamente para o desenvolvimento cultural e conseqüentemente sócio-econômico de nosso país.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

LIVRO DIÁRIO DO ESCRITOR 2011

SER FELIZ

Hoje, na poesia do improviso,
Nas artimanhas do imensurável,
O amor é um embaraço...

Agora, no emaranhado do imprevisível,
Uma gostosa fragrância da incerteza,
Um tencionar insano do desejo de viver...

Amanhã, no morar dos enigmas de amar,
Uma graciosidade na surpresa,
Uma intensidade no inventar para ser feliz.

AGENDA 2011 - CELEIRO ESCRITORES

Rebento Luzitano

Sou descendente do épico e do lírico Camoniano,
Peregrino da Ilíada e da Odisséia,
E nos Mares conquistados sou vassalo Lusitano
Sou um trovador da poesia arrebatada
Que entrelaça realidade e ficção.

Sou gênese de Vasco da Gama, reinvenção épica,
Canto na minha rebenta poesia a glória de Portugal
Interpreto mais um tipo Vicentino que diverte e moraliza
Vivencio o desconcerto do mundo em Camões
Proclamo o Doce Amor de Deus de Anchieta
Transfiguro a alma em Fernando Pessoa.

No telescópio cultural da Humanidade vejo o Belo
Nas paredes da Caverna da Arte e Literatura Portuguesa
Num pacto simbolista de sons, imagens e sentidos
Que ilude, provoca, reflete e descortina o prazer.

Paradoxal e conceptista, Vieiramente admiro
A oratória emocionada e lúcida do Povo Português
Que num Locus Amoenus, ensina o Carpe Diem
Num sermão de Identidade e democratização cultural.

FRANKFURT ALEMANHA 2010

APENAS UM GOLE

Mais um dia com o fogo dos velhos goles neste mundo de tragédias. Não há fagulha de luz, só há assaltos por desejos infelizes: tudo arde interiormente e a coragem está destruída. Uma vida vivida e consumida por uma viagem perigosa, recheada de trevas. Sou a alma de um ébrio atordoado que grita e geme. Sou a chaga aberta e cheia de cuspo que queima no frio do isolamento humano.
E, sozinho, não consigo articular na concretude humana, não percebo o sentido de ser, não pratico a amalgamação com o outro, não sinto penetração ou invasão, não vislumbro nem a liberdade nem o aprisionamento...Só há o fechamento das poucas alternativas, só há o esgotamento das raras possibilidades. Sou vago, informe, flácido...
Sou prisioneiro nessa cidade estreita, recheada de restos, destroços e combates. Faço sinais na praia dos zumbis a fim de ser percebido por esta desgraçada e omissa sociedade. Meu código de silêncio estratégico não afeta as muitas pessoas doentes e corruptas que residem nessa cidade. São profissionais da angústia e da miséria que investem na decomposição do ser e existir. Usam máscara e maquiagem nos discursos: é o cinismo institucional que constitui o álcool como uma droga socializada e politizada.
E nesse presídio social, mais um gole de idiotices: brindo atonitamente a um dia sem sol, uma criança sem sorriso, um velho sem saudade e uma vida sem esperança. É a lucidez do etílico que assiste a grande piada da justiça e a cultura da impunidade. Não há respeito às recomendações éticas, só às etílicas.
Não há palavras para falar, dissiparam-se todas. Só há bafo e pupila. É a sociedade que se cala, silencia diante desse câncer social. E assim, sem fala e sem voz, animalizo, embruteço, despersonalizo e bestializo-me. Sinto-me impotente para administrar essa tendência suicida e destrutiva: sou fonte seca e árida que desertificou-se completamente. Seduzido e escravizado pela loucura do álcool, vivo a agonia de ficar sem família, sem trabalho, sem ser alguém, sem dignidade. Balbucio:
- Um brinde ao Nada.
A minha tragédia, o mal do álcool, é também a tragédia da coletividade humana. Despejamos a todo instante, densas placas silenciosas de lágrimas que denotam a amputação dos projetos de vida e de sol em busca da plenitude e realização do homem. Esse vício corta como navalha as relações sociais e familiares, tem a capacidade de transformar o poder do abraço em poder do braço, a violência prevalece, estupra a liberdade e rouba a paz. Ele é capaz de mortificar o sentimento e sepultar qualquer relacionamento, edificando assim imensas fortalezas enormes que impedem o diálogo consigo mesmo e com o outro.
Não há percepção poética da vida e nem do outro. O álcool destrói a veia poética e os encontros com a vida são feitos em clima de tensão, discussão e agressão. As palavras e atitudes são duras, ásperas, venenosas: ossificam...coisificam... E angustiadamente murmuro:
- Estou morto!
É a morte da abertura, da disponibilidade, do partilhar, do compartilhar, da condição de ser e fazer na vida. É a caminhada inexorável para o caos social e a exclusão comunitária. E mesmo na dimensão da morte, ainda procuro ouvir ansiosamente uma voz que me convide para um posicionamento moral, uma vida sóbria, uma prática lúcida, um gesto sensato, um objetivo ético. Não ouço...Estou apoiado na muleta do álcool, preciso da bengala da bebida para encarar os conflitos pessoais, conjugais e sociais. E desesperadamente choro e grito:
- Estou sangrando, minhas cicatrizes estão abertas, sinto o gosto amargo do fracasso...Sinto-me asfixiado...desfaleço diante da crise...estou morto. Preciso ingerir mais alguns goles de ilusão.
É o corpo que engole todos os estágios da destruição e da morte prematura do ser: a tolerância da bebida, a dependência física, (in)consciência da necessidade com maior freqüência e quantidade, distúrbios psicológicos e emocionais, a subjetividade e o intelecto atingidos drasticamente. É o lamento compulsivo da sociedade alcoólatra que pluraliza a experiência destruidora do álcool: uma droga que tem uma imensa capacidade de conquistar e nunca se deixar conquistar.
A sociedade egoísta e hipócrita não quer ver a alma, o interior do alcoólatra. Ninguém tem tempo para ouvir um pouco do lamento e da angústia que sai do peito de um homem que está aprisionado neste pesadelo. Ninguém quer ouvir as queixas, os ais, as rixas, as feridas sem causa, os olhos vermelhos de um alguém encabrestado pela droga. Poucas pessoas compreendem a sensibilidade de um alcoólatra, um ser perceptivo às contradições e as esquisitices da história humana que se recusa a enxergar um mundo tão sem sonho e sem a magia da esperança.
No caminho para se perder o sentido do viver , esbarramos em cacos e restos espalhados pelos bares e festas da vida: a prostituição, a traição, a falsidade, a inexpressividade, a fuga, a transitoriedade, a futilidade, o cinismo, a mentira, a perversidade, a desgraça... Assim, a visão a respeito da vida desintegra-se e desarticula-se. É a despersonificação social dramática e irreversível. O ébrio torna-se uma ilha solitária que segue gemendo sua solidão nos bares, fazendo da boemia sua parceira na solidão e do copo o sócio de sua condição de miserável impotente e abandonado.
E nessa viagem sem volta, a única linguagem existente é aquela que gera a dor, o lamento, o sofrimento, a amputação, o drama e o desespero. Como companheiros inseparáveis dessa viagem temos a apatia, a negação da vida, o abortamento da realização, o corte na construção e a ruptura com o amanhã.
Chega ao fim a novela interminável da desgraça que tudo inferniza. Não há esforço de restauração e recuperação da dignidade de ser simplesmente gente. Comemoro tal constatação com novos goles e gritos:
- Deus! Sem futuro lúcido, sem projeto para o hoje, sem sonho, sem objetivo, sem sentido, realmente estou morto e enterrado vivo por mim mesmo e pelos outros. Um único gole! Um gole cheio de desespero será tomado em homenagem à sociedade e sua solidariedade. Um brinde especial... À Morte.

POESIA E PROSA - VERÃO II

ÊXODO


Exilaram-me de minha pátria e de mim mesmo. Um parto e uma partida madrastas diante da angustiante vida que me assola em terra longínqua e desconhecida. Um frio interno e intenso: ausência do outro.
Sem direito a despedidas e enlaces, fui banido dos sentimentos e vivências complexas das pessoas que me cercavam. Ninguém impediu que eu fosse ou pediu que eu ficasse. Naturalmente engoli uma despedida forçada de quem nunca quis ir, só ficar...
Arremessado para um caos social ideologicamente organizado sinto falta de mim. Quem sou? ... Apesar de saber quem são os meus pais e ser tatuado com o símbolo do Brasil e gente brasileira, não consigo encontrar-me. Abraço desesperadamente as fotos de infância tentando através da passagem ali mostrada encontrar marcas e significâncias do que fui e um resto do que ainda sou. Leio e releio e-mails antigos na esperança de através da linguagem resgatar fragmentos do outro em mim, mergulho no trabalho desgastante e as lacunas da alma e do coração não são preenchidas, sempre falta algo e alguém. Estou condenado à eterna e incansável busca pelo saciar de mim em mim mesmo. É a crise e a crise.
Minha língua mãe e a outra mãe adormecidas em terras diferentes balbuciam:
_ Não, você não tem ninguém, você não é nada, você é nenhum..
Neste convívio especular de milhões de seres e máscaras instáveis brigo com a ilegalidade e a perseguição do estranho. Não sou eu, são os outros que são também parte de mim.
Respiro um medo lancinante: imagino o paradoxo de ser diversos band-aids que confusos tentam cicatrizar os estilhaços lançados pelas pátrias, família e amigos. Sou ainda, a saliva seca e brilhante num refluxo de distanciamento e aproximação: um vazio enorme...um hiato inominável... Recordo-me...
Diante de uma foto antiga e embaçada persigo reminiscências ausentes: a banda de música, amores, faculdade, amigos, parentes, pais... Doloridos cortes, graves feridas e bruscas rupturas...Reflito... Existo?!
A vida, madrasta má, mostra-me o quanto as sombras podem interferir, invadir e ferir intensamente o lado de dentro e por dentro de alguém. Uma ardência latejante consome o meu desejo de voltar a ensimesmar e enfrentar os outros, diferentes de mim. É o basta ao processo de avestruzamento. Refaço-me...
Sem despedida nenhuma, como sempre, choro por não ter sido e pelo ainda não ser. Sou apenas coisificação: vendo a guitarra e o baixo, compro a passagem de só-ida a preço insignificante. Só há saída para qualquer lócus da falta. Sou objeto do tempo, da festa rave e dos shows de nü metal. Sou pressão e depressão diante das violentas máscaras presentes nesta terra de gigantes, diferente e alheia ao que ou quem sou... Recomeço a caminhada, decido o percurso. É a tentativa de identificação. Rumino...

PRÊMIO BURITI 2010 - MENÇÃO HONROSA

RONCO DA ALMA.

XXX CONCURSO INTERNACIONAL VIVÊNCIAS 2010

GALEIRA BRASIL 2010 - GUIA DE AUTORES CONTEMPORÂNEOS

TEMPO DE POLÍTICA.

MEHORES CONTOS 2010 - CBJE

LAÇOS


A viagem prossegue num ritmo incomum como sempre. Venho do interior de mim e vejo que a sua saída amarga torna-se evidente, apesar das nossas conversas, dos nossos olhares, dos nossos textos em comum e da minha súplica silenciosa... Você apenas sai e vai. Sem despedidas, sem laços.
Revejo ainda seu vulto magro, cabelos soltos e brilhantes, músculos bem delineados, olhos decididos e libertos. Ouço sua voz fresca e macia que pronuncia enigmaticamente:
- De alguma forma amo a quem já amei...
Na travessia do meu rio sem pontes, o seu amor não vacilou ao passar pelo canal estreito construído pelo meu desejo e desespero. No meu velho e invisível barco marcado de naufrágios, você desceu as escadas de ferro, alisou mais uma vez os meus poemas e disse-me:
Sei que sou o primeiro a mergulhar no seu rio...
Não consegui ouvir muito bem o restante da frase, um zumbido irritante apossou dos meus ouvidos. Apenas consegui balbuciar insegura:
- Ninguém vem até mim só para entretenimento e para exploração. A minha realidade é outra, já cuidei para que não ameacem e agridam o meu sorriso meio triste e o meu verso, ainda silencioso.
- É claro. Estou certo disso. - Disse-me sorrindo e retirando-se com indiferença das minhas águas.
Durante a minha pequena viagem interna, isolada no meu lugar, temendo alguns ecos e encontros noturnos que já conhecera em outras viagens, decidi não conversar com ninguém. Nada queria ouvir, só queria sentir. E senti absurdamente a sua ausência.
Afobada e aborrecida, ainda quis culpar o acaso ou uma inspiração infeliz dizendo em voz alta:
- São pequenas memórias desvairadas que estreitam os meus vários lados... É só, e não estou só.
Exausta e absorta em meus pensamentos, imaginei que me adaptaria com relativa facilidade às novas situações da realidade sem a sua presença. Mero engano, transferi-me imediatamente para o seu mundo, não suportei a ausência de mim em mim mesma. Agarrei-me às fantasias que você costuma criar, e sem perceber, acabei impondo-as a mim. Agora tento reinventar o seu desejo, já aniquilei o meu. São sensações e circunstâncias recheadas de delírios, instabilidades e outras sombras sedutoras que entrelaçam os seus caminhos e estilhaçam os meus. E sofro, e dói...mas vivo.
Volto ao meu interior, ao meu antigo lugar. Entro e fico. Numa recusa pronta e ríspida, cegamente olho a paisagem através dos seus olhos e recordo o passado recente: a primeira e única pessoa a mergulhar nas minhas águas... Num gesto de defesa e fuga, reato os laços. Só vejo sonhos íntimos e selvagens, desvinculados da ideia de emancipação. É a viagem, é a via, é a única via...

ANTOLOGIA LITERÁRIA CIDADE V - PARÁ

AVESSO

Na frágil teia da vida
Um amor escolhe um outro
Libera motivos e nos deixa cativos
Fascinantemente débeis
Restam sobras e migalhas do passado
Um gosto de amor em transparência
Que faz coisas inusitadas, esquisitas e idiotas

No paradoxo desejo e indecisão
Nos seus lábios eu me devoro
Inexplicável, ininteligível e mágico
O mais breve dos encantos
Desenho você em palavras
Escritas com cristais brilhantes do seu olhar
Olhos de topázio: duros e claros


Numa sinfonia de suspiros
Respiro o adorar pelo avesso
Uma vontade de morar dentro do outro
Desejo e Sou
Amante da paixão intrigante
Lágrima de irrigar o prazer
Dor para lapidar o viver.

VOZES DE AÇO VI - 2010

SORRIR SÓ, SUSSURRO e FLAGELO.

VOZES DE AÇO VI

Antologia Bienal Internacional de São Paulo 2010

Poesias FLAGELO e PRECISA-SE DE LOUCOS.