Com o grito assustado
Vejo seus olhos impermeáveis
Sou vítima dos meus desejos
E dos meus silêncios...
Não há doçura no sorriso sufocado
Só minhas lágrimas amargas e rígidas
Sou alvo morto
Oferto um beijo pra essa boca de miséria
Encolho-me num canto e encanto
Ensejo não desejar
Uma pequena letra
Que gosta de aparecer
Tão pequena...
Feliz com a mentira na boca
E com as presas afiadas da vida
Morro e mato a cada dia
O louco dentro de mim
E no fragmentado do vivido
Sou coisa alguma do nada
Nas minhas intensas maneiras de sentir
Sem penas é apenas a pena
De sentir o fio da solidão nas bocas do outro
Uma mentira que consome
a fome do poema no poema
Ecos esquecidos e partidos
É o isso e/ou aquilo
Corridos em linguagem
Umedecida e escorrida
Nas paredes embrutecidas da alma
Num incessante repetir e refazer
Na mesma dor de doer dolorida
Busco e preciso de um cânone
Como uma aranha que começa a tecelar
É o espiar, o repetir e o construir
Livrar-se de si e encher-se do outro
Poema meu poema nosso
Brotando como fonte de água
É a lógica dos paradoxos
Das construções imaginárias
Sem medo de invasão
Um sentir sem compreender
Intangibilidade...