quinta-feira, 14 de julho de 2011

Concurso Internacional - Amanhã Outro Dia - SP/AG

Crônica - Mais um dia de visita 2 lugar
poesia - Lágrimas e Tempo de Vida-3 lugar

Mais um dia de visita


Abri os olhos e pude sentir o cheiro do café sendo coado. Não havia mais nada além do delicioso pretinho na nossa casa. Mas a falta do dinheiro no final do mês não impede o enfrentamento das vicissitudes e o humor diante das situações cotidianas.
Saí da cama num pulo, prendi meus cabelos bem cuidados, caminhei a passos firmes para o terreno baldio e pude sentir vagarosamente o entorpecer do sol na minha pele. Que sensação maravilhosa! Meus olhos podiam contemplar a mais bela dádiva de Deus: a vida! A minha vida, a vida dos meus entes amados e a vida doce que fermentava ao meu redor.
E nessa mesma paisagem de sempre que alimenta e sacia a minha sede de viver, busco algo diferente a fim de manter-me feliz e auxiliar a humanidade. Penso na possibilidade de descobrir um novo sonho para as pessoas diabéticas, afogo o tédio passageiro e sou inundado por ideias mirabolantes.
Tomei o meu café sem açúcar, lavei o rosto para iluminar minha beleza, vesti minha camisa branca de ir à missa, distribui o meu sorriso dentro do pequeno barraco e tomei o ônibus para mais um dia persistente e nunca desistente.
Pela janela do veículo que sacolejava, conseguia antecipar os acontecimentos: a demora para ser atendido no hospital e a dificuldade na obtenção dos remédios. Não importa! O som lento do motor era tranquilizante e me fazia refletir... A vida é construída com viagens longas e demoradas, e na maioria das vezes, usufruímos daquilo que gera prazer e aprendemos com as pelejas do destino.
Cheguei ao hospital, apalpei a sacolinha que carregava e emanei um sorriso maroto. Ali dentro tinha toda quantia do meu porquinho de moedas quebrado na emergência: Dezesseis reais seriam suficientes para o lanche e o ônibus. Não me sentia mais ansioso ou desconfortável durante minha visita aquele ambiente. Sentei no último banco, perto da conhecida janela. Fechei os olhos e acabei roubado pelo cochilo durante a espera.
No limiar do sonho e da realidade, algo me chamou a atenção como criança diante da prateleira de brinquedos. Da janela pude observar tudo o que se costuma ver em novelas, em revistas ou nos poucos livros que li. Mil borboletas passeavam dentro da minha barriga... Uma sensação indescritível de bem estar! Visualizava enormes paredes de água ornamentadas com a arte das pichações, gigantescas páginas de livros voadoras cheias de escritas sorridentes, edifícios recheados de vento calmo e suspirante que a todo momento criavam nova forma aos vários andares, um céu flamejante que irradiava um agradável calor e estupenda luminosidade. Meus pés podiam sentir a firmeza da Mãe Terra que emanava carinho e aconchego. Meu corpo parecia transcender... Meu Ser transbordava leveza e vigor naquele momento mágico.
Fui despertado repentinamente pela umidade do pavimento hospitalar. A moça que limpava o local, num momento de descuido, deixou a água fria interceptar meus pés e o meu chão de fantasias. Abri os olhos, tudo fazia parte do velho e conhecido cenário do meu tratamento. Subi as escadas, abri a porta imensa e senti os braços arrepiarem pelo ar condicionado. Senti frio... Não sei se pelo ambiente do hospital ou pelo desligamento abrupto do meu mundo mágico.
Aguardei o tempo necessário para o atendimento, recebi as medicações e voltei para casa ciente de que na realidade gozo de saúde e ainda tenho o poder de viver também novos sonhos. De longe podia sentir o delicioso cheiro do café pretinho sem açúcar.


LÁGRIMAS

Quem dera a sensatez fosse mais forte que o amor
A vida é um embaraço e
Moradora do meu interior como sou
Numa felicidade disfarçada, mergulho
Nos pensamentos embaralhados
Nos lábios molhados e misturados as lágrimas.

Lágrimas amigas íntimas
Lágrimas bem-vindas
Lágrimas que cortam o rosto
Lágrimas abundantes de mágoas pretéritas
Lágrimas viscosas de dor
Lágrimas preenchidas de infelicidade
Lágrimas brilhantes de desespero.
Somos o que choramos...
Lágrimas para arraigar a perda
Lágrimas para irrigar o prazer
Curiosas lágrimas que transbordam da alma.

Assim, unidamente separados
Os olhos deliciam-se nas infinitas águas da vida
Olhar nos olhos das salgadas lágrimas
Chorar rios secos.
O amor virou choro
Diante de um coração que nunca sofreu
E jamais conhecerá a alegria de ser forte...
Molham as lágrimas copiosas
De amante que apanha
E só tem lágrimas de perdão.

Um comentário:

  1. Sua escrita é de uma realidade indescritível.
    Parabéns, tenho muito orgulho de ser seu sobrinho!


    Joseph Elias

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